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Tá chegando a hora de nossa próxima viagem. Já estamos na contagem regressiva. Haja coração!!! Nessa expedição conheceremos pontos históricos importantes do Peru. Na volta, passaremos pelo deserto de Atacama.
DIÁRIO DE BORDO
09.Julho.2012.Segunda-feira – sétima dia – de Puerto Maldonado(PE) a Marcapata(PE) – 301 km – Das 8h40 às 17h15. Tempo total: 09h25de pilotagem. 3958,3 Km rodados desde Uberaba(MG).
Saímosde Puerto Maldonado cedo pelo horário deles, às 06h40, em nosso horário,08h40. A rodovia Interoceânica continualinda e perfeita, nenhum buraco. Mas os animais na pista continuam do mesmojeito. Na realidade a Interoceânica é quase perfeita. Na minha opinião,faltaram duas coisa para que ela fosse perfeita. Primeiro, faltou umacostamento mais largo e mirantes ao longo da rodovia. Fica difícil parar asmotos para tirar fotos das cordilheiras. A paisagem é magnífica, mas fica muitoperigoso para as motos em locais sem acostamento praticamente. Segundo ponto: emvários pontos da rodovia, a água que corre das montanhas passa em cima da pistae não por baixo. Essa água devia passar por baixo, claro. É um ponto negativovisto que aquela água pode criar lodo na pista e a moto pode escorregar. Já lirelatos de uma motociclista que caiu, e o Marcelo, que estava conosco,escorregou um pouco, mas não caiu, felizmente. Também notamos que não há muitotrânsito ainda na Interoceânica, quase não vimos caminhões. A rodovia é quasedeserta, digamos assim. São poucos carros e algumas motos entre as pequenascidades. Quando os caminhões começarem a correr por aqui, será muito perigoso,pois há muitos animais na pista. Hoje, encontramos inclusive alguns porcos.Essa movimentação irá acabar com o sossego dos peruanos. Tomara que, pelomenos, traga dinheiro para eles. Essa região sul, pela qual entramos, é muitopobre, mas as pessoas são muito simpáticas. Fomos parados hoje por váriospoliciais, mas todos eles nos trataram muito bem. A impressão que temos é queeles queriam mais conversar do que fiscalizar. E quando paramos em Marcapata,vários senhores que passavam por nós nos cumprimentavam com um “buenas tardes”original e espontâneo. São realmente muito simpáticos.
AInteroceânica, cruzando a cordilheira dos Andes continua cheia de curvas o quea torna não somente bela, mas muito divertida para nós, motociclistas. A cada 5minutos, há uma curvinha linda para fazermos, tendo ao lado, as cordilheiras.Para quem já atravessou as cordilheiras na Argentina e no Chile está acostumadocom seu aspecto desértico. Aquelas montanhas gigantescas completamente áridas ecom picos nevados. Aqui, no Peru, nessa região, a paisagem é diferente. Nada dearidez. As montanhas são completamente tomadas por vegetação rasteira ou não.Deve ser influência da floresta amazônica. Há também os picos nevados. Tudo muito lindo e diferente.
Comoa estrada é cheia de curvinhas, nossa média de velocidade diminuiu bastante.Quando passamos em Marcapata, a mais de 3000 metros de altitude, conversamos seseguiríamos até Cusco ou pararíamos aqui. Para Cusco são apenas 200Km, mas namédia em que estávamos indo, foi melhor parar por aqui, pois chegaríamos muitotarde na outra cidade e ainda teríamos de procurar hotel, etc. Seria uma tensãodesnecessária e o frio só iria aumentando daqui para frente. Até aqui nãosentimos frio nenhum. Atravessamos a cordilheira às 12h, horário local, e o solnos acompanhou direto. Tô começando a pensar que viajar no inverno por essasbandas é uma boa. No verão deve ser muita chuva incomodando.
Em Marcapata a pobreza é geral. Encontrar umapousada/hotel foi difícil. Havíamos lido a indicação de uma pousada chamada LaPequenita. Muuuuuito ruim. Ficamos numa pousada chamada Puyutarquí, menos ruim,mas igualmente pobre. A senhora simpática que cuida da hospedagem se chamaVisitacion Hermosa. De todas que vimos, recomendamos esta. Há água quente, mas,quando chegamos, o “esquentador” estava desligado e leva horas para esquentar.Na manhã seguinte, a água estava quente. Foi um sufoco tomar banho. Quandoestava me enxugando, fumacinha saía do meu corpo, tal o frio que estava aoredor e também na água. Depois do banho, meus dedos da mão direita começaram aformigar, pois a circulação diminuíra bastante. Liguei a moto e coloquei amanete para esquentar as mãos. Acho que deu certo. O banheiro é coletivo e apia para escovar os dentes, lavar o rosto, etc., também. Essa é a situaçãogeral em toda a cidadezinha encravada na cordilheira dos Andes. O bom de pararem Marcapata é que dá para se aclimatar em relação à altitude. Até Cusco,subiremos mais de 1000 metros e aí descemos para 3000 novamente em Cusco.
Devidoà falta de oxigênio nessas alturas, é comum as pessoas passarem mal. Esse maldas alturas se chama aqui no Peru de “soroche”. Passamos em uma farmácia emPuerto Maldonado e compramos uma pílula que se chama “soroche pills” justamentepara amenizar esse mal. Qualquer farmácia vende essas pílulas! No entanto, nomeu caso, não resolveu totalmente. Durante a viagem até Marcapata que seencontra a mais de 3000 metros acima do mar, senti uma leve dor de cabeça e umadorzinha no estômago. Qualquer esforço maior, também cansava. O Sanches e oMarcelo também sentiram um pouco o mal da alturas, mas menos do que eu. Quandochegamos a Marcapata, depois de arrumadas as coisas, fui tomar, pela primeiravez, o famoso chá de coca. A folha de coca é legalizada no Peru e faz parte dacultura deles. O chá de coca, além de aliviar o soroche, é também um ótimoestomacal. Aqui no Peru há, inclusive, sachês para fazer o chá, como aquelesque encontramos no Brasil. Muitos brasileiros tem um certo preconceito com essechá. Na verdade, a folha é inofensiva e o chá só faz bem. O problema da cocaínaé o processo de fabricação em que entram substâncias altamente tóxicas como abenzina e a acetona. Tomei o chá e o gosto não é lá essas coisas. É como sefosse uma infusão qualquer de folhas. É amargo e misturei açúcar para aliviaresse amargor. Depois, fiquei sabendo que o chá deve ser tomado sem açúcar, poiso açúcar quebra o efeito benéfico dafolha! Também comprei um saquinho com folhas para mascar. Colocam-se trêsfolhas de coca na boca e se masca vagarosamente. Depois de algum tempo,gospe-se fora. O gosto também não é nada bom. Parece, de novo, um matoqualquer.
Fomosjantar num restaurante que parecia ser o menos pior. Comi um macarrão muitobom. Dali, quebrado pelo mal das alturas e um começo de gripe, deixei meuscompanheiros e fui dormir.